Saturday, December 22, 2012

Vote pelas mudanças que melhorarão seu mundo!


Meu Mundo é uma pesquisa global realizada pelas Nações Unidas e feita para todas as cidadãs e cidadãos do mundo. O objetivo é capturar as vozes das pessoas, prioridades e pontos de vista, para que os/as líderes globais possam ser informados, ao tempo em que se inicia o processo de definição da nova agenda global de desenvolvimento.

Através de Meu Mundo, as pessoas poderão eleger seis âmbitos de atuação (de um total de 16) que eles consideram que fariam mais diferença em suas vidas. As 16 questões foram elaboradas a partir das prioridades expressas em pesquisas e aplicação de questionários realizados com as populações mais pobres do planeta, e abordam os existentes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, além de questões de sustentabilidade, segurança, governança e transparência.

A partir de agora até 2015, as Nações Unidas querem que o maior número possível de pessoas e países participem desta pesquisa: cidadãs e cidadãos de todas as idades, sexo e origens e, especialmente, das comunidades mais pobres e marginalizadas do mundo.

Os resultados serão apresentados primeiramente ao Grupo de Alto Nível do Secretário-Geral para a agenda de desenvolvimento pós-2015, antes das reuniões em Monrovia, Bali e Nova York, e servirá de apoio ao relatório final e às recomendações que este Grupo apresentará em maio de 2013.

Posteriormente, Meu Mundo continuará recolhendo as opiniões das pessoas até 2015 e os resultados serão compartilhados com o Secretário-Geral e os/as líderes mundiais enquanto se preparam para a agenda de desenvolvimento pós-2015.

VOTE AQUI: http://www.myworld2015.org/?lang=es

Sunday, September 30, 2012

Acesso das Mulheres à Justiça: Tratando das Barreiras nos Processos Judiciais

O relatório da ONU Mulheres de 2011-2012 denominado "Progresso das Mulheres do Mundo: Em Busca de Justiça", analisa o acesso das mulheres à justiça, a partir de marcos legais de justiça para as mulheres durante e após os conflitos.
As mulheres freqüentemente encontram barreiras no acesso à justiça. Seus múltiplos papéis produtivos e reprodutivos implicam em que elas geralmente não tenham tempo suficiente para gastar em defender suas causas, então, simplesmente desistem delas. As mulheres podem não ter os recursos necessários para buscar justiça ou não estão conscientes das opções legais disponíveis para elas. Às vezes, enfrentam a desaprovação social para buscar justiça, especialmente nos casos de violência doméstica ou sexual.
AWID falou com a professora Charlotte Bunch, do Centro para a Liderança Global das Mulheres, sobre o relatório.
Por Kathambi Kinoti

AWID: A ONU Mulheres (e o UNIFEM anteriormente) produz um relatório periódico sobre a situação das mulheres. Qual é o significado deste relatório anual, em especial o tema deste ano "Em Busca de Justiça?"
Charlotte Bunch (CB): O relatório chama a atenção do mundo e traz legitimidade para algumas das reivindicações que tem sido feitas pelos movimentos de direitos das mulheres. Isso nos dá uma ferramenta para trazer de volta nossos esforços e exigir que os governos prestem atenção às questões sobre os direitos das mulheres.
O relatório deste ano é particularmente bom porque se concentra em uma questão que temos levantado: Apesar de todas as informações e conhecimento que nós temos, por que há uma lacuna na implementação dos direitos das mulheres? Em vez de uma abordagem tecnocrática para as questões, é importante encontrar formas práticas para que as informações e serviços alcancem as mulheres, e assim capacitá-las a ingressar no âmbito da justiça. Por exemplo, há alguns anos, uma estratégia utilizada nos EUA para educar as mulheres sobre HIV e AIDS foi tornar as informações disponíveis em lojas e salões de beleza.

AWID: O relatório confirma que as mulheres são muito mais propensas a relatar incidentes de assalto do que de violência sexual, ainda que o estupro seja mais comum do que roubo. No Egito, por exemplo, mais de 40% das mulheres foram vítimas de violência sexual e menos de 10% estão dispostas a denunciá-lo. Menos de 10% foram vítimas de roubo, e elas são muito mais propensas a relatar isto. Por quê?
CB: Roubo não tem a associação moral negativa que a violência sexual tem, e assim, as sobreviventes não são revitimizadas ou envergonhadas por relatá-lo. Em muitos lugares, o sexo e a sexualidade são vistos como algo vergonhoso. Mesmo em países onde muitos progressos têm sido feitos no combate à violência contra as mulheres, sobreviventes de estupro geralmente pensam que fizeram algo errado para ter atraído a violência para si. Elas "saíram quando não deveriam" ou "caminharam pelo lado errado da rua", ou "se vestiram de maneira muito provocante".
O relatório mostra que o sistema perpetua o estigma, as mulheres são revitimizadas pelos processos de justiça. Recursos escassos são assigandos para coleta e processamento de evidências forenses. No escândalo do kit de estupro*, cortes de orçamento relegaram o andamento dos kits de estupro para uma categoria de não-prioridade, porque "a maioria das mulheres não registram acusações de estupro." A situação é pior para as mulheres que não têm conhecimento dos seus direitos

AWID: O relatório sugere uma série de estratégias para lidar com as taxas de subnotificação e atrito, como balcões de atenção unificados e postos policias somente de mulheres. Quais devem ser as prioridades mais altas na resolução destas questões?
CB: As prioridades dependem do contexto. Eu fortemente apóio os balcões unificados que torna mais fácil para as mulheres descobrir o que elas podem fazer. Em alguns países, postos policiais somente de mulheres acabaram sendo bem-sucedidos, em outros eles receberam poucos recursos e foram considerados como menos importante do que as delegacias de polícia regulares.
Precisamos pensar criativamente sobre a localização: qual é o melhor lugar para as mulheres terem acesso aos serviços? Os balcões de atenção podem ser incorporados dentro dos centros de saúde, onde as mulheres podem obter todas as informações que elas precisem. Pode ser estratégico localizá-los no mesmo lugar que as clínicas para crianças, porque as mulheres tendem a ter mais cuidado com seus filhos/as do que com si mesmas. Então, enquanto elas levam seus bebês para a vacinação, elas têm acesso a informações sobre onde procurar ajuda para a violência doméstica, ou que provas são necessárias preservar em casos de violência sexual.
As mulheres precisam ter um lugar para ir por sejam quais forem os problemas de gênero que elas enfrentam. Assim, elas estarão mais propensas a fazer uso dos serviços disponíveis. Muitas vezes elas são impedidas devido a suas obrigações domésticas e de cuidado, e pelo receio de ser vistas notificando seus casos. Ter várias etapas diferentes ao longo dos trâmites da justiça em diferentes locais torna isso ainda mais difícil para as mulheres.

AWID: O relatório mostra que as mulheres estão excessivamente sub-representadas nos sistemas de justiça, especialmente nos serviços policiais. Sobreviventes de violência sexual na maioria das vezes ficam mais à vontade em relatar os seus casos para oficiais de polícia do sexo feminino. Por que isso acontece, e por que as mulheres estão tão sub-representadas nos tribunais, no Ministério Público e na polícia?
CB: Dado o estigma em torno da violência sexual, as mulheres presumem que policiais femininas vão acreditar nelas, e que os homens podem ridicularizá-las ou não levá-las a sério.
A sub-representação pode ser atribuída aos estereótipos de gênero e representações patriarcais da autoridade. A polícia representa autoridade e está associada com controle físico e coerção. Atualmente mais mulheres trabalham na esfera pública, mas muitas pessoas ainda não as associam com este papel.
Feministas muitas vezes enxergam os sistemas de justiça como abusivos às mulheres, assim tendem a não defender o recrutamento de mulheres para esses sistemas. Mas esses são serviços essenciais e há necessidade de haver um maior recrutamento de mulheres para mudar a cultura de abuso e corrupção que existe neles.

AWID: A CEDAW já existe há 32 anos e a maioria dos países o ratificou. Isto obriga os Estados-partes a assegurar o acesso das mulheres à justiça. Por que a Convenção e seus processos relacionados não fizeram progressos mais rápidos para garantir o acesso das mulheres à justiça?
CB: A CEDAW tem sido tão eficaz como qualquer outra convenção de direitos humanos, o que significa dizer que as convenções são fundamentalmente sobre a definição de padrões e em colocar pressão política sobre os governos. Embora seja juridicamente vinculativas, geralmente não são executáveis. Seu sucesso depende do compromisso dos países com o tema e do quanto eles se preocupam com a sua reputação na comunidade internacional. É uma ferramenta muito importante que ajuda a expor o que precisa ser feito, mas ela não pode fazer isso acontecer se o governo não se preocupa.
Inicialmente, os progresso na implementação da CEDAW foram impedidos, porque muitos governos simplesmente não se importavam, e em segundo, porque lida com hábitos e questões culturais e sociais muito amplas, ao contrário, por exemplo, da Convenção contra a Tortura, que é mais aceita transculturalmente. Mudanças sociais são lentas e nem sempre são lineares. Por exemplo, sucessivas mudanças de regimes políticos dentro de um país podem implicar em resultados bons ou ruins para os direitos das mulheres.
O Capítulo 1 deste relatório destaca casos que foram ganhos com base na CEDAW. Isto ilustra o seu papel como uma ferramenta que as mulheres podem usar para a mudança.

AWID: A criação da ONU Mulheres, em janeiro de 2011 foi recebida com grandes expectativas pelas/os defensoras/es dos direitos das mulheres. De que maneira você acha que o seu status aumentado deveria facilitar melhor acesso à justiça?
CB: Os seis primeiros meses de existência da ONU Mulher foram gastos para criar a sua estrutura desde as unidades existentes que ela substituiu dentro da burocracia da ONU. Somente agora ela está começando a se mover para o nível dos países e mais de programação.
Em nível global, a ONU Mulheres tem agora uma maior voz e pode falar em níveis mais elevados do que as mulheres poderiam antes. Esperamos vê-la ter uma voz maior em nível das representações regionais e nacionais em breve. Nos próximos 1-2 anos, a sociedade civil deve acompanhar o desenvolvimento de planos nacionais sistemáticas, de modo que esteja a par com outras agências da ONU nos escritórios nacionais.

AWID: Você vê algumas lacunas no relatório?
CB: O relatório identifica as barreiras que as mulheres enfrentam e elabora muitas boas recomendações, mas não chega a uma forte análise do papel do controle e do poder social e econômico na restrição do acesso das mulheres à justiça. Costuma-se dizer: "As leis mudaram, por que as mulheres não denunciam as violações?", como se fosse sobre as mulheres tendo atitudes retrógradas, não sobre as barreiras para que isso aconteça.
O relatório recomenda maior apoio às organizações legais das mulheres, mas não cita os movimentos de mulheres como uma força política para a mudança de atitudes e sistemas. Isso está ligado ao seu silêncio em torno de nominar o poder e o controle.
Por outro lado, ele é um dos melhores relatórios da ONU que eu já vi. É claro e acessível, e emprega gráficos úteis, tais como tabelas. É um excelente recurso para a discussão com os governos sobre a melhoria do acesso das mulheres à justiça, e que as barreiras permanecem mesmo quando boas medidas foram introduzidas. Quando as delegacias somente de policias femininas foram introduzidas no Brasil, elas foram vistas como uma boa idéia. Mais tarde se percebeu que elas eram consideradas como secundárias, e oficiais do sexo feminino que nelas trabalhavam acharam difícil ser promovidas ou ser levadas a sério, já que estas não eram vistas como delegacias de polícia 'reais'. Então, medidas tiveram que ser tomadas para sanar este problema.
O impacto do relatório dependerá de como as agências da ONU, governos, organizações e movimentos de direitos das mulheres, o usem como uma ferramenta para melhorar o acesso das mulheres à justiça.


* Quando uma mulher é submetida a um estupro, há uma série de evidências físicas que podem fornecer provas do crime. .  http://www.hrw.org/audio/2010/03/18/untested-rape-kits-rights-watch-27 . Noa Estados Unidos, por vários anos, esta evidência não foi rotineiramente coletada e usada nos julgamentos de estupro.

Fonte: AWID 
Publicado originalmente em inglês em 04/11/2011

Thursday, May 3, 2012

TECNOLOGIA E ATIVISMO FEMINISTA: UMA REFLEXÃO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E DEFICIÊNCIAS - PARTE 3 DE 3


Não há dúvida de que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) estão mudando a maneira como realizamos nosso ativismo – em nossa vizinhança e globalmente – e as/os ativistas dos direitos das mulheres estão fazendo parte disso”. AWID entrevistou Erika Smith da Associação para o Progresso das Comunicações no Programa de Apoio às Redes de Mulheres (APC WNSP) sobre o uso das TICs pelas mulheres para mobilizar.

Por Gabriela De Cicco - Fonte: AWID

AWID: Pela maneira em que as redes sociais funcionam (comentários, marcações, etc) às vezes os grupos tem perdido o controle de seus conteúdos, como uma pode se assegurar de que seus conteúdos não são mal-interpretados em outros espaços online?

ES: Você não pode! Mas você pode em espaços offline? Veja como a media retratou (ou censurou) o ativismo das mulheres por anos. Por exemplo, se você confiar nas coberturas de fotos, as marchas de orgulho são somente desfile com transvetidos em figurinos surpreendentes. Educação da mídia, crítica e discernimento são habilidades vitais par todas/os nós, online e off.
     Então sim, você pode ser reproduzido equivocadamente e tirado do contexto, mas as ferramentas de TIC também te ajudam a acompanhar o debate, usando análises e alertas. Você pode deixar a discussão seguir, reforçar sua mensagem, destacando seus argumentos críticos e cultivando-os, ou ser convencida/o de mudar sua opinião! Também continuar construindo, reconhecendo e aprendendo com as diversas comunidades feministas que irão te apoiar e neutralizar os/as comentaristas agressivos/as.
        Talvez outra preocupação seja como as redes sociais podem nos manter falando para os mesmos ciclo de amigas/os ao invés de expandir para além de sua zona de contato e mudar nosso discurso para ser mais efetivo e chamativo para mais pessoas - então as futuras "ondas" de feminismo se tornam mais amplas e mais agradáveis de percorrer.
          Eli Pariser cunhou a expressão "Filter Bubble" (algo como uma bolha de filtro) assinalando que as/os ativistas podem equivocadamente sentir como se elas vivessem em um mundo preocupado com a justiça social porque  haverá um aumento de resultados das pesquisas no Google nas áreas que  você normalmente procura, pelo seu comportamento na internet, e então você pensa que as pesquisas das/os outras/os usuárias/os coincidirão com estes mesmos bons resultados. Ele destaca que nossas comunidades da rede social são reflexos de nós mesmos mais que da realidade. Francamente, com a misoginia que as mulheres enfrentam online não acho que elas vivem tão enclausuradas na bolha filtrada, mas é importante estar consciente de como a tecnologia (moldada pelos interesses do mercado) vai também condicionando nossa percepção baseada no que ela intui de que são nossas preferências.

AWID: O uso das TCIs ajudaram a assegurar e apoiar a liberdade de expressão nos países onde a censura e a regressão são fortes, mas recentemente houve um incidente incômodo onde se descobriu que um blogger não era autêntico. Quais são alguns dos riscos nisto? Esses incidentes poderam afetar as legitimidades sas TICs como autênticas ferramentas para a liberdade de expressão?

ES: Absolutamente! As regras de padrão da APC destacam a importância do anonimato online e da privacidade, especialmente nos regimes repressivos, especialmente para defensoras/es de direitos humanos, incluindo militantes LGBT. Macmmasters' Gay Girl em Damasco coloca a integridade de certos direitos e a Internet como uma plataforma em risco, coloca outros militantes LGBT baixo intenso escrutínio que pode comprometer sua segurança, e em acréscimo ao personagem fictício que ele criou para seu blog, ele roubou a identidade e destruiu a privacidade de Jelena Lecic. As ações dele sabotam o movimento que ele pretendia apoiar. Mas essas falsas apropriações são uma voz menor em comparação com as vozes verdadeiras (sejam identidades anônimas ou assumidas). A crítica de Akiba Soloman é especialmente perspicaz e uma lição de escuta e discernimento.


TECNOLOGIA E ATIVISMO FEMINISTA: UMA REFLEXÃO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E DEFICIÊNCIAS - PARTE 2 DE 3


Não há dúvida de que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) estão mudando a maneira como realizamos nosso ativismo – em nossa vizinhança e globalmente – e as/os ativistas dos direitos das mulheres estão fazendo parte disso”. AWID entrevistou Erika Smith da Associação para o Progresso das Comunicações no Programa de Apoio às Redes de Mulheres (APC WNSP) sobre o uso das TICs pelas mulheres para mobilizar.

Por Gabriela De Cicco - Fonte: AWID

AWID: Há desafios ou deficiências em usar TICs para a mobilização?

ES: Sim, há riscos. Todos blogueiros já receberam comentários maldosos/agressivos. Por exemplo, as mulheres blogueiras - e especialmente as feministas, enfrentam não apenas críticas sobre os conteúdos postados, mas também ameaças violentas de teor sexual. Dadas as informações que nós inadvertidamente revelamos sobre nós mesmos online (especialmente sobre o que fazemos nas horas livres), os ataques se tornam personalizados e podem ser bem intimidantes. Chantagens contra feministas online é uma ocorrência intensa e uma tentativa de silêncio e censura.
        Durante a campanha 'Take Back the Tech' nós sofremos todo tipo de assédio - fotos de mulheres participantes montadas em imagens nuas foram circuladas na Internet para desacreditá-las, mulheres sendo chantageadas por fotos ou videos delas em situações íntimas, computadores e contas sendo hackeadas ou roubadas, bem como celulares. Como militantes nós temos que pensar não somente em nossos próprios dados, mas também nos dados que temos das pessoas pelas quais lutamos. APC WNSP criou um documento com dicas para ajudar as mulheres a se prevenirem de ser alvos de intimidação cibernética, bem como conselhos para estarem seguras online.
        Defensoras/es dos direitos humanos das mulheres (DDHM) precisam prestar atenção especial à segurança das comunicações online e se manter seguras virtualmente. Aprender como a internet funciona e onde estão os pontos vulneráveis por causa do hardware e também como usar os dados armazenados é crucial.
        Além disso, outro risco para o ativismo das mulheres é a censura e/ou a filtragem. A Pesquisa Exploratória em Sexualidades e TIC (EROTICS) da APC WNSP revelou como trabalhadoras do sexo, defensoras/es da saúde reprodutiva e dos direitos sexuais, e comunidades LGBT dependem da Internet, e em muitos casos é seu único instrumento e fonte de informações. A pesquisa EROTICS revelou o papel vital que a Internet desempenha para as comunidades marginalizadas na luta contra a filtragem. O ativismo feminista deve defender nossos direitos na Internet como comunicadores e a Internet como um bem público.

AWID: Existem mecanismos para proteger as/os usuárias/os de TIC da violência e do assédio?

ES: Recursos contra a violência e o assédio (intimidação) via Internet dependem do país em que você está. Legislações sobre assédio cibernético estão sendo adotadas em vários países ao redor do mundo. Mas na ausência dessas leis, é importante registrar cada assédio, e alertar amigos e a polícia do que está acontecendo. Também poderiam haver unidades especiais para crimes cibernéticos, mas a legislação nesta área é difícil. Frequentemente a resposta para esse tipo de problema é legislar a Internet - direcionando para a censura - mais do que lidando com a violência do crime.


Livre tradução.
      

Friday, January 6, 2012

TECNOLOGIA E ATIVISMO FEMINISTA: UMA REFLEXÃO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E DEFICIÊNCIAS - PARTE 1 DE 3


Não há dúvida de que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) estão mudando a maneira como realizamos nosso ativismo – em nossa vizinhança e globalmente – e as/os ativistas dos direitos das mulheres estão fazendo parte disso”. AWID entrevistou Erika Smith da Associação para o Progresso das Comunicações no Programa de Apoio às Redes de Mulheres (APC WNSP) sobre o uso das TICs pelas mulheres para mobilizar.

Por Gabriela De Cicco - Fonte: AWID

AWID: Você poderia nos contar de quais maneiras as TICs podem e tem sido usadas para mobilizar, especialmente em relação aos direitos das mulheres?

ES: Agora mesmo a possibilidade de mobilizar pelas redes sociais está sendo a mania – de tal forma que algumas pessoas creditaram ao Facebook e ao Twitter a ocorrência da Primavera Árabe, e não aos milhões de pessoas que fizeram possível tantas viradas, após muitos anos de luta.
       Há um considerável número de petições internacionais e sites como Avaaz, Care2, 350.org, colocando pressão – ou levantando dinheiro – para causas muito específicas em períodos específicos. Avaaz tem quase 10 milhões de membros e mobilizou milhões de dólares para diferentes ações, incluindo: a ação para a África do Sul tomar medidas destinadas a acabar com o “estupro corretivo” contra lésbicas negras; convencendo a rede de hotéis Hilton a se comprometer na luta contra o tráfico sexual; ajudando grupos locais a deter a lei de Uganda que propunha a sentença de morte para os gays.
       Em alguns países, ações globais e convocatórias de protestos foram taxadas como imposição de ideais ocidentais. Também existem críticas quanto à efetividade do ativismo pela Internet. As críticas são no sentido de que as pessoas estão muito cômodas clicando e não estão tomando atitudes nem mudando suas próprias vidas com o objetivo de acabar com a injustiça estrutural. Eu penso que as petições têm seu poder, mas que as mobilizações online se tornam muito mais poderosas quando acompanhadas pelo ativismo de tempo real, off-line, cara a cara.
         Mulheres online são testemunhos relevantes – elas são atores e agentes mais do que objetos. Elas determinam como irão retratar e representar-se a si mesmas, exigindo transparência e prestação de contas, construindo novos mundos na multimídia criativa. A mobilização na Internet pela defesa dos direitos das mulheres é evidenciada de vastas maneiras ao longo dos anos, vejam exemplos das campanhas online abaixo (*).


AWID: Mulheres e homens têm acesso igual às TICs? E como isso afeta suas habilidades para usar essas ferramentas efetivamente como um meio de mobilização?
E.S.: Em geral as mulheres estão acabando com o abismo digital de gênero – mas quando você examina essas populações da Internet se dá conta de que as mulheres com mais de 30, que não falam inglês e não vivem em áreas urbanas têm muito menos acesso.
          Estimadamente 30% da população mundial tem acesso a Internet atualmente, mas – que parte do mundo? De acordo com uma agência especializada das Nações Unidas para as tecnologias da informação e comunicação (a UIT), isso significa sete de cada dez pessoas no mundo “desenvolvido” e duas de cada dez no mundo “em desenvolvimento”. E se você compara África com América Latina, apenas 11,4% da população da África tem acesso à Internet, em comparação a 36,2% na América Latina.
       Há um entusiasmo sobre como os telefones móveis são igualadores em términos de acesso a Internet, especialmente onde computadores são poucos, a banda-larga é custosa e a eletricidade é escassa. Cisco Systems informou em janeiro que este ano havia 48 milhões de pessoas ao redor do mundo com um telefone móvel, mas que não tem eletricidade em casa. Entretanto, os móveis enfrentam um sério abismo de gênero – pelos países as mulheres têm 21% menos probabilidade de possuir um telefone móvel que um homem. Sendo que, nas investigações quanto à violência contra as mulheres e tecnologia, os celulares são freqüentemente uma fonte de contenção e controle.
      Mas o acesso é muito mais que infraestrutura, também importa se as informações disponíveis são relevantes para você como mulher, no seu idioma, se você tem habilidades técnicas e um ambiente adequado, etc. É muito importante desenvolver uma visão de gênero para as agendas digitais dos países – muitos estão cegos para a questão de gênero e priorizam o crescimento corporativo, não o desenvolvimento social ou a participação cidadã.




·         Organizações LGBT no Líbano cresceram junto com a Internet, desde salas de chat, a uma comunidade online centrada no lesbianismo, Meem, mandando mensagens de conscientização por vídeo no You Tube (http://www.youtube.com/watch?v=P9wgxHMTSEI), atuação nas redes sociais, e uma publicação arábe queer semanal (http://www.bekhsoos.com/web/) com ¼ milhão de acessos no ano passado. 
·     Bloggers feministas coagiram a MAC Cosméticos retirar sua linha de produtos “inspirada” nas trabalhadoras das fábricas de Juarez e a fazer doações para ajudar no combate à violência contra as mulheres. (http://www.blogher.com/frame.php?url=http://bonerkilling.blogspot.com/2010/12/mac-makeup-romanticizing-mexican-womens.html)
·    IPAS Brasil postou um vídeo no YouTube para fazer as pessoas pensarem duas vezes sobre a criminalização do aborto (http://www.youtube.com/watch?v=_2ITf3o5Byo)
·      Campanha no Irã por Um Milhão de Assinaturas para pedir pelo fim das leis discriminatórias contra as mulheres (http://www.we-change.org/english/)
·     O incansável acompanhamento da Radio FIRE das mulheres em conflito e crise, evidenciado no Haiti depois do terremoto, e pelo campo de solidariedade feminista, para assegurar que as vozes das mulheres haitianas sejam ouvidas, reconhecendo a importância do testemunho e também resgatando a história do movimento de mulheres haitianas, junto a tantas/os outras/os comunicadoras/es feministas haitianas/os  e latino americanas/os.
·       Mulheres sauditas solicitando apoio no Twitter e Facebook para #women2drive, e acompanhando os vídeos virais “Honk for Saudi Women”.
·           Egypt's HarassMap para dar um fim a aceitação do assédio sexual.
·           Take Back the Tech! Pelo fim da violência contra as mulheres durante 16 dias de campanha.
·        Novas plataformas feministas emergiram, como nist.tv que oferece acesso e armazenamento fácil e rápido de vídeos feministas.




Texto original em inglês disponpivel em: http://www.awid.org/News-Analysis/Friday-Files/ICTs-and-Feminist-Activism-A-reflection-on-the-benefits-and-shortfalls