Friday, January 6, 2012

TECNOLOGIA E ATIVISMO FEMINISTA: UMA REFLEXÃO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E DEFICIÊNCIAS - PARTE 1 DE 3


Não há dúvida de que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) estão mudando a maneira como realizamos nosso ativismo – em nossa vizinhança e globalmente – e as/os ativistas dos direitos das mulheres estão fazendo parte disso”. AWID entrevistou Erika Smith da Associação para o Progresso das Comunicações no Programa de Apoio às Redes de Mulheres (APC WNSP) sobre o uso das TICs pelas mulheres para mobilizar.

Por Gabriela De Cicco - Fonte: AWID

AWID: Você poderia nos contar de quais maneiras as TICs podem e tem sido usadas para mobilizar, especialmente em relação aos direitos das mulheres?

ES: Agora mesmo a possibilidade de mobilizar pelas redes sociais está sendo a mania – de tal forma que algumas pessoas creditaram ao Facebook e ao Twitter a ocorrência da Primavera Árabe, e não aos milhões de pessoas que fizeram possível tantas viradas, após muitos anos de luta.
       Há um considerável número de petições internacionais e sites como Avaaz, Care2, 350.org, colocando pressão – ou levantando dinheiro – para causas muito específicas em períodos específicos. Avaaz tem quase 10 milhões de membros e mobilizou milhões de dólares para diferentes ações, incluindo: a ação para a África do Sul tomar medidas destinadas a acabar com o “estupro corretivo” contra lésbicas negras; convencendo a rede de hotéis Hilton a se comprometer na luta contra o tráfico sexual; ajudando grupos locais a deter a lei de Uganda que propunha a sentença de morte para os gays.
       Em alguns países, ações globais e convocatórias de protestos foram taxadas como imposição de ideais ocidentais. Também existem críticas quanto à efetividade do ativismo pela Internet. As críticas são no sentido de que as pessoas estão muito cômodas clicando e não estão tomando atitudes nem mudando suas próprias vidas com o objetivo de acabar com a injustiça estrutural. Eu penso que as petições têm seu poder, mas que as mobilizações online se tornam muito mais poderosas quando acompanhadas pelo ativismo de tempo real, off-line, cara a cara.
         Mulheres online são testemunhos relevantes – elas são atores e agentes mais do que objetos. Elas determinam como irão retratar e representar-se a si mesmas, exigindo transparência e prestação de contas, construindo novos mundos na multimídia criativa. A mobilização na Internet pela defesa dos direitos das mulheres é evidenciada de vastas maneiras ao longo dos anos, vejam exemplos das campanhas online abaixo (*).


AWID: Mulheres e homens têm acesso igual às TICs? E como isso afeta suas habilidades para usar essas ferramentas efetivamente como um meio de mobilização?
E.S.: Em geral as mulheres estão acabando com o abismo digital de gênero – mas quando você examina essas populações da Internet se dá conta de que as mulheres com mais de 30, que não falam inglês e não vivem em áreas urbanas têm muito menos acesso.
          Estimadamente 30% da população mundial tem acesso a Internet atualmente, mas – que parte do mundo? De acordo com uma agência especializada das Nações Unidas para as tecnologias da informação e comunicação (a UIT), isso significa sete de cada dez pessoas no mundo “desenvolvido” e duas de cada dez no mundo “em desenvolvimento”. E se você compara África com América Latina, apenas 11,4% da população da África tem acesso à Internet, em comparação a 36,2% na América Latina.
       Há um entusiasmo sobre como os telefones móveis são igualadores em términos de acesso a Internet, especialmente onde computadores são poucos, a banda-larga é custosa e a eletricidade é escassa. Cisco Systems informou em janeiro que este ano havia 48 milhões de pessoas ao redor do mundo com um telefone móvel, mas que não tem eletricidade em casa. Entretanto, os móveis enfrentam um sério abismo de gênero – pelos países as mulheres têm 21% menos probabilidade de possuir um telefone móvel que um homem. Sendo que, nas investigações quanto à violência contra as mulheres e tecnologia, os celulares são freqüentemente uma fonte de contenção e controle.
      Mas o acesso é muito mais que infraestrutura, também importa se as informações disponíveis são relevantes para você como mulher, no seu idioma, se você tem habilidades técnicas e um ambiente adequado, etc. É muito importante desenvolver uma visão de gênero para as agendas digitais dos países – muitos estão cegos para a questão de gênero e priorizam o crescimento corporativo, não o desenvolvimento social ou a participação cidadã.




·         Organizações LGBT no Líbano cresceram junto com a Internet, desde salas de chat, a uma comunidade online centrada no lesbianismo, Meem, mandando mensagens de conscientização por vídeo no You Tube (http://www.youtube.com/watch?v=P9wgxHMTSEI), atuação nas redes sociais, e uma publicação arábe queer semanal (http://www.bekhsoos.com/web/) com ¼ milhão de acessos no ano passado. 
·     Bloggers feministas coagiram a MAC Cosméticos retirar sua linha de produtos “inspirada” nas trabalhadoras das fábricas de Juarez e a fazer doações para ajudar no combate à violência contra as mulheres. (http://www.blogher.com/frame.php?url=http://bonerkilling.blogspot.com/2010/12/mac-makeup-romanticizing-mexican-womens.html)
·    IPAS Brasil postou um vídeo no YouTube para fazer as pessoas pensarem duas vezes sobre a criminalização do aborto (http://www.youtube.com/watch?v=_2ITf3o5Byo)
·      Campanha no Irã por Um Milhão de Assinaturas para pedir pelo fim das leis discriminatórias contra as mulheres (http://www.we-change.org/english/)
·     O incansável acompanhamento da Radio FIRE das mulheres em conflito e crise, evidenciado no Haiti depois do terremoto, e pelo campo de solidariedade feminista, para assegurar que as vozes das mulheres haitianas sejam ouvidas, reconhecendo a importância do testemunho e também resgatando a história do movimento de mulheres haitianas, junto a tantas/os outras/os comunicadoras/es feministas haitianas/os  e latino americanas/os.
·       Mulheres sauditas solicitando apoio no Twitter e Facebook para #women2drive, e acompanhando os vídeos virais “Honk for Saudi Women”.
·           Egypt's HarassMap para dar um fim a aceitação do assédio sexual.
·           Take Back the Tech! Pelo fim da violência contra as mulheres durante 16 dias de campanha.
·        Novas plataformas feministas emergiram, como nist.tv que oferece acesso e armazenamento fácil e rápido de vídeos feministas.




Texto original em inglês disponpivel em: http://www.awid.org/News-Analysis/Friday-Files/ICTs-and-Feminist-Activism-A-reflection-on-the-benefits-and-shortfalls