A igualdade de gênero não pode ser alcançada ao menos que homens e garotos estejam convencidos da igualdade de oportunidades para mulheres e garotas
NAIROBI/KAMPALA, 3 de outubro 2011 (IRIN). O envolvimento dos homens é chave para o sucesso do movimento de igualdade de gênero, mas mudar estruturas sociais mantidas há tanto tempo e convencer os homens sobre a importância de oportunidades iguais para as mulheres não acontecerá de um dia para o outro, dizem os especialistas.
“Homens desistindo de suas posições superiores é semelhante a atuar fora do normativo ou da forma prescrita e [significa que os homens podem ser] ridicularizados por agir de maneira diferente - não como homens”, conta a IRIN, Maria Magezi, assistente de programa da ONG Akina Mama wa Afrika, na capital de Uganda, Kampala. “Isso também significa que os homens irão sentir como se alguns tipos de poder estivessem sendo retirados deles e a reação normal é lutar para restaurar sua posição e poder ”.
Um novo informe da ONG Plan International diz que a igualdade de gênero não poderá ser alcançada ao menos que homens e garotos estejam convencidos da importância de oportunidades iguais para as mulheres e meninas.
“As políticas não podem fazer isso sozinhas – nós precisamos começar a pensar em modos de envolver garotos e homens, então eles podem começar a ver o valor da igualdade de oportunidades para as garotas”, argumenta Edith Wanjohi, responsável de gênero para o escritório regional da ONG Plan na capital do Kênia, Nairobi.
De acordo com Plan, quando diz respeito a gênero, os homens normalmente caem em três categorias: aqueles que reconhecem que mulheres e meninas merecem direitos iguais, mas temem que os garotos irão perder caso se permita as garotas desfrutar desses direitos; aqueles que não acreditam em direitos iguais – o maior grupo; e aqueles que acreditam na igualdade e colocam essa crença em ação – o menor grupo.
Uma pesquisa com mais de 4.000 adolescentes em Índia, Ruanda e Reino Unido descobriu que os garotos foram freqüentemente condicionados a ter atitudes negativas em relação às mulheres. Em torno de 65% dos questionados de Ruanda e Índia concordaram total ou parcialmente com a afirmação que “uma mulher deveria suportar violência para manter sua família unida”. Mais de 60% dos jovens entrevistados em Índia concordaram que “se os recursos são escassos é melhor educar um garoto do que uma garota”.
Incluindo os homens nos programas
“O custo de não trabalhar com os garotos e homens jovens é o de que os programas e políticas que atuam com mulheres jovens e meninas continuem a se deparar com as barreiras do poder masculino e as expectativas, estruturas e crenças que beneficiam os homens em detrimento das mulheres,” afirmam as/os autores. “O preço a ser pago é simples: a continuação do desempoderamento das garotas e mulheres jovens ao longo das gerações – e a limitação dos garotos e jovens homens aos tradicionais papéis masculinos”.
Como resultado de uma abordagem centrada apenas nas mulheres dos programas de gênero por anos, os homens têm sido marginalizados da discussão e tem freqüentemente se sentidos alheios às abordagens às vezes conflitivas adotadas pelo ativismo de gênero.
“Em encontros internacionais de gênero – desde Pequim a ONU - a vasta maioria de quem participa são mulheres... nós estamos pregando para os já convertidos: não envolver aqueles que têm o poder de mudar as coisas significa que você não pode alcançar a mudança que você quer”, diz Gezahegn Kebede, diretora regional da Plan.
Plan recomenda envolver os homens na elaboração de políticas, implementação e ativismo sobre igualdade de gênero.
“Embora a igualdade de gênero esteja sendo levada adiante, até certo ponto tem havido falhas na implementação ou defesa da igualdade de gênero para realmente transformar as instituições onde isso acontece, o que significa que o trabalho está sendo feito na superfície em nome da igualdade de gênero, mas de fato as raízes do problema – como o patriarcado – não estão sendo resolvido, o que torna a luta infrutífera e levou a muitos projetos serem apenas projetos de mulheres, disse Akina Mama Wa Afrika’s Magezi”.
O informe de Plan observa que excluindo os homens da agenda de gênero, os garotos jovens também se sentem alheios à mensagem de gênero; o informe menciona um projeto de pesquisa realizado pelo Instituto de Educação em Londres, que cita um exemplo de uma participante do Movimento de Educação das Garotas na África do Sul, que “estava trabalhando com crianças de escola entre 15 e 19 anos e falando sobre a infância das meninas. Houve vaias dos meninos”.
De volta ao básico
A mudança real deve começar em casa. “Se um garoto vê o seu pai tratando suas irmãs e sua mãe com respeito, ele irá seguir isso: se ele vê seu pai agredindo a sua mãe, há mais chance de que ele também seja abusivo”, diz Wanjohi.
Ela notou que a escola, instituições religiosas e outras áreas chaves da sociedade também devem ser envolvidas nesse processo de assegurar que homens e garotos entendam o sue papel de melhorar a vida das mulheres.
“Apesar de avanços positivos nas iniciativas quanto à educação das garotas, os papéis de gênero na volta a casa, que colocam muita pressão nas garotas, cria todo um ambiente desfavorável a elas”, conta Celestine Magero, professora em uma escola de Nairóbi. “Quando uma garota volta a casa, ela tem que fazer as atividades domésticas antes de se colocar a estudar. Garotas de origem pobre perdem muitas dias de aula, por exemplo durante seus dias de ciclo menstrual, porque não tem condições de comprar absorventes higiênicos”.
O informe constatou que engajar os homens nos programas de direitos das mulheres dá um estímulo muito necessário; Wanjohi conta que envolver os líderes culturais masculinos do Kênia nos esforços para acabar com a mutilação feminina teve efeitos positivos.<http://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/2007/726_filename_fgm.pdf>.