Saturday, January 26, 2013

Ela é (raramente) a Chefe


De Nicholas D. Kristof

Publicado em : 26 de janeiro de 2013
Livre tradução em português por Taluana Wenceslau

DAVOS, Suíça

É o encontro anual dos supostos poderosos, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, com os ricos viajando em jatos particulares para discutir questões como a pobreza global. Como sempre, é um mar de homens. Este ano, a participação feminina é de 17%.

Talvez isso não seja surpreendente, considerando que os líderes políticos e empresariais globais são predominantemente do sexo masculino. Nos Estados Unidos, apenas 17% dos assentos dos conselhos das 500 empresas americanas listadas no ranking da Fortune são ocupados por mulheres, um mero 3% das posições de presidência são ocupadas por elas - e as mulheres são pouco representadas no gabinete do presidente Obama.

De fato, eu suponho que a média dos quadros de diretoria não apresentam uma igualdade de gênero muito melhor do que a de uma equipe de caçadores da época das cavernas atacando um mamute 30.000 anos atrás.

Então, o que acontece? A resposta provocativa vem de Sheryl Sandberg, a chefe de operações do Facebook, que escreveu um inteligente livro que deve sair em março e que atribui esta diferença de gênero, em parte, ao chauvinismo e obstáculos corporativos, mas também, em parte, às mulheres que não perseguem as oportunidades de maneira agressiva.

"Mantemos-nos atrás tanto de maneiras grandes como pequenas, por falta de autoconfiança, por não reivindicamos nossa posição, e recuando quando deveríamos estar indo adiante", Sandberg escreve no livro, chamado "Lean In".

"Nós internalizamos as mensagens negativas que recebemos ao longo de nossas vidas, as mensagens que dizem que é errado ser direta, agressiva, mais poderosa do que os homens. Reduzimos nossas próprias expectativas do que podemos alcançar. Nós continuamos a fazer a maior parte do trabalho doméstico e de cuidado das crianças. Nós comprometemos nossos objetivos de carreira para dar espaço aos parceiros e às crianças que podem nem mesmo existir ainda."

Sandberg e eu discutimos o assunto em um painel aqui em Davos, e eu acho que há algo de real e importante no que ela diz. Quando dou palestras em universidades, as primeiras perguntas são sempre feitas por um homem - até mesmo em faculdades de mulheres. Quando eu aponto para alguém na platéia para fazer uma pergunta, as mulheres daquela área quase sempre olham umas para as outras hesitantes - e qualquer homem ao lado já levanta a mão e faz sua pergunta.

Uma pesquisa da McKinsey publicada em abril revelou que 36% dos trabalhadores do sexo masculino em grandes empresas aspiravam a ser altos executivos, em comparação com 18% das mulheres. Um estudo dos alunos do MBA da Universidade Carnegie Mellon, em 2003, descobriu que 57% dos homens e apenas 7% das mulheres tentaram negociar uma oferta mais alta de salário.

Sandberg, uma das mulheres mais importantes na América corporativa, não é conhecida como alguém encolhida no canto. Ela confessa que, quando estava na escola primária, treinou seu irmão e irmã mais novos para acompanhá-la, ouvir seus discursos e periodicamente gritar: "Isso!"

No entanto, ela reconhece que alimentou muitas de suas inseguranças, às vezes vertendo lágrimas no escritório, bem como tendo dúvidas sobre seu malabarismo para conciliar trabalho e família.

Quando se juntou ao Facebook como seu número 2, ela inicialmente foi disposta a aceitar a primeira oferta de Mark Zuckerberg, o fundador. Ela escreve que seu marido e cunhado a incentivaram a exigir mais, o que ela fez - obtendo um acordo melhor.

"Espero que cada mulher defina seus próprios objetivos e alcance-los com gosto", escreve Sandberg. "E estou esperando que cada homem faça a sua parte em apoiar as mulheres no local de trabalho e em casa, também com gosto."

No entanto, eu gostaria que pudesse haver duas versões do livro de Sandberg. Uma, comercializada para as mulheres jovens, encorajando-las a serem mais assertivas. Outra, comercializada para os homens (e as mulheres já na liderança), ressaltaria a necessidade de mudanças estruturais para acomodar mulheres e famílias.

Sandberg está culpando a vítima? Eu acho que não, mas eu também não quero diminuir a pressão sobre os empregadores, que precisam fazer um trabalho muito melhor de recrutamento e promoção das mulheres.

Natureza e costumes sociais juntos tornam a maternidade muito mais esgotante do que a paternidade, além de que o trabalho moderno foi construído para um pai não participativo. Isso não é ótimo para os pais e pode ser quase impossível para as mães - pelo menos para aquelas que não têm grande riqueza ou cônjuges extraordinários.

É famosa a conduta de Sandberg de deixar o escritório às 17h30min na maioria dos dias para estar com seus filhos, mas não há muitas mulheres (ou homens) que se atreveriam a isto.

Algumas pessoas acreditam que as mulheres são chefes mais compreensivas, ou que oferecem mais apoio às mulheres hierarquicamente abaixo delas. Eu sou cético. As mulheres podem ser tão rudes quanto os homens.
Mas precisamos de mais mulheres em posições de liderança por outra razão: evidências consideráveis ​​sugerem que grupos mais diversificados tomam melhores decisões. As empresas devem promover as mulheres não apenas pela justiça equitativa, mas também porque os ajuda a ter melhor desempenho. Lehman Brothers ainda poderia estar presente hoje em dia se fosse Lehman Brothers & Sisters.

Então, sim, vamos incentivar as mulheres jovens a "ir adiante", mas vamos também alterar o ambiente de trabalho de modo que, enquanto se dediquem e se afirmem, estejamos logo atrás delas gritando: "Isso!"